14 de outubro de 2015

O TÍPICO CICLISTA DO RECIFE...

PREFEITO BÓRIS JOHNSON, de Londres.  Uma simples pesquisa de imagens com o nome dele em bike, oferece dúzias de imagens do mesmo tipo.

Amigos...

Inspirado pelo artigo publicado no THE GUARDIAN sobre os obstáculos culturais aos planos ciclísticos do prefeito de Londres, BORIS JOHNSON, resolvi refletir um pouco sobre os desafios sociais que temos ao pensar numa Recife ciclável. 

Boris deseja uma Londres cheia de ciclistas de todas as idades, etnias, gêneros, etc, mas enfrenta vários desafios culturais dos seus cidadãos.  A grande parte dos ciclistas diários lá são tipicamente homens, brancos, com menos de 40 anos, e com salários médios e altos.  Em pesquisa realizada por lá, os ciclistas são descritos como alguém ligado ao meio-ambiente, muito independente, de esquerda e vegetariano.  Resumindo, uma pessoa que sabe o que quer, que vive em um estilo que muitos consideram alternativo. Sob vários aspectos, usar a bicicleta lá é considerado "burguês" e não atrai nem aos afrodescendentes, nem os muçulmanos, nem a maioria das mulheres, nem aos asiáticos de Londres com a mesma frequência que aos demais.   Para essas etnias, se você faz sucesso compra um carro, e bicicleta é lazer ou coisa de criança.

Parece o Recife, de certa forma.

Até uns 4 anos atrás, os ciclistas que escolhem usar a bicicleta como meio de transporte diário eram homens de baixa renda, afrodescendentes em algum grau.  Ainda lembro do espanto que tiver quando soube que um amigo, programador em uma grande empresas, branco, classe média, saía da Torre e ia até Boa Viagem quase todos os dias de bicicleta para trabalhar. Era uma exceção quando pessoas de classe média só tinham coragem de pedalar na "manada" dos grandes grupos noturnos de pedalada.   Então, apareceu a ciclofaixa de lazer e turismo aos domingos e feriados que colocou o "gostinho" de pedalar na cabeça do "burguês", mesmo que ainda tímido.  Enquanto isso, os desgovernos federais facilitavam a vida do comprador de carros, as cidades se entulhavam, e mais e mais pessoas iam aderindo a bicicleta como meio de transporte a partir de suas experiências com as pedaladas de lazer.  Assim, hoje temos um mix maior de ciclistas do dia a dia, mesmo que em sua grande maioria ainda possa ser descrita como homens, afrodescendentes e de baixa renda. Mas a fatia da classe média vem crescendo entre os homens com perfil aproximado aos de Londres, homens, brancos e bem empregados. Infelizmente, ainda tem muita gente que pensa e age no modelo já ultrapassado de que "carro dá status", mesmo não saindo do lugar em intermináveis engarrafamentos.

Enfim, desafios culturais levam tempo para serem ultrapassados, e de certa forma, é bom ver que enfrentamos desafios similares aos de uma cidade considerada civilizada.  A grande diferença é que para nossa infelicidade, os nossos prefeitos não chegam aos pés de Bóris!

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Original ROGÉRIO LEITE @ 2010