10 de dezembro de 2013

BOM DIA... BOA NOITE... OBRIGADO... POR FAVOR... COM LICENÇA...

VOCÊ É CARROCRATA? QUANTAS VEZES DEU UM BOM DIA OU BOA NOITE E AGRADECEU A QUEM ESTÁ TRABALHANDO PARA VOCÊ SE DIVERTIR?

Amigos...

Nascido e criado no Recife, de família classe média média, filho de funcionários públicos de médio escalão, recebi alguns ensinamentos simples como o ato de dar bom dia as pessoas quando as vê pela manhã ou saudar com um boa noite ao sair.  Cresci, mudei, fui para outras paragens, e 20 anos depois volto para encontar uma cidade temerosa, em que as pessoas perderam a civilidade, a educação normal.  Dar bom dia hoje em dia é receber um grunhido de resposta mal humorada.   Com certeza podemos ver a evolução da cidade menor onde as pessoas eram pessoas, amigos, vizinhos, para uma cidade gigante e individualista, onde somos números, ameaças, rótulos.  Somos motoristas, pedestres, motociclistas, ciclistas.  Somos do bem ou almas sebosas.  Somos desconhecidos, anônimos, passantes, populares.  Deixamos de ser pessoas.  Vítimas acuadas pela violência, pelas ações e interesses do poder público, cada vez mais desconectado com a população e com mais sede de elitização: carros maiores, mais vantagens financeiras, mais poder.   As pessoas da cidade se fecharam em torno dos seus, da sua vida, do seu caminho para se proteger.  Quem atravessa, impede ou dificulta o seu caminho, tem de ser avisado com buzinaços sem sentido, ameaças de jogar o carro em cima, vontade de matar alguém o que as vezes termina acontecendo.  Dias de fúria.

Mas nós, PESSOAS QUE PEDALAM, defendemos e queremos a bicicleta no dia a dia. Queremos mais respeito, queremos que nos vejam como somos, pessoas indo para o trabalho que escolheram a bicicleta para isso.  Queremos que o poder público nos considere nos seus planejamentos viários, nas leis que destinam espaço a bicicletários, sinalização, atenção. 

Mas agimos como os motorizados.  Nos escondemos numa impassibilidade, fechados em nosso mundo.  Corremos nas ruas durante a semana ou na ciclofaixa aos domingos, sem se importar se existem outros pedalando.  Metemos o som nas alturas enfiado nos ouvidos, criamos nosso universo particular, e ativamos o modo FODA-SE O MUNDO! Ficamos iguais aos motorizados agindo assim.

E só fazendo uma boa autocrítica, percebemos e também que é possível mudar isso, tirar os fones do ouvido, baixar a velocidade, sorrir, dá bom dia as pessoas que passam, contagia-las com alegria, prazer de pedalar na cidade, tranquilidade.  Viva a cidade mais leve, transforme a vida dos outros com um sorriso.  Agradeça ao pessoal que controla a ciclofaixa móvel, elas trabalham para você.  Somos muito melhores que os carrocratas trancados em seus aquários com vidros escuros e ar condicionado.  Somos a vida da cidade viva.  Somos nós que queremos e podemos mudar o mundo. 

Antes que eles ganhem algo com isso, você é quem vai se sentir recompensado por haver tomado de volta um pouco da civilidade que Recife já teve!  E se todo mundo ajudar, quem sabe não transformamos a cidade com mais amor e menos motor?!

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Original ROGÉRIO LEITE @ 2010