Manifesto pela democratização da mobilidade
- “Pedalo também e apóio as ciclovias, desde que não atrapalhe a mobilidade dos outros modais”.
- “Se não há espaço para se colocar essa ciclovia, vamos deixar o espaço para quem paga os impostos”.
- “Pegue sua bicicleta e vá brincar em outro lugar”.
- “Corredor de ônibus na Av. Recife? Não tem espaço!”
- “Deveriam em vez de tirar espaço pra ciclofaixa, alargar mais as vias do bairro.”
- “Se a maioria das pessoas se desloca de carro, por que dar espaço para bicicletas?”
Essas
são algumas frases que foram ditas e repetidas durante estas últimas
semanas por alguns críticos das ciclofaixas de Casa Amarela. Elas
revelam principalmente uma hipocrisia de uma parcela – esperamos que
pequena – da sociedade zona nortista, que se vangloria de morar num
bairro arborizado, e de uma época em que a Av. 17 de agosto tinha
quebra-molas. Esses cidadãos orgulhosos de morar num bairro tranquilo,
seguro, bucólico não percebem que Casa Forte, Parnamirim, Casa Amarela,
não são mais os mesmos, só existe no imaginário deles. E esses mesmos
cidadãos, que da boca pra fora se orgulham deste bairro imaginário, não
pedem mais árvores em suas quadras, não querem redutores de velocidade
nas principais avenidas, não lutam por mais faixas de pedestre e se
recusam a dar um pedaço da rua – como se a rua deles fosse – ao trânsito
de bicicletas.
A
lógica é inimiga da hipocrisia, e alguns fatos não estão sendo
considerados nesta discussão. É dever do poder público governar para
todos, e apesar de parecer, pelo enorme espaço que os carros ocupam nas
ruas, que eles são maioria, não o são. Muitos discutem toda esta questão
a partir de duas premissas: Recife é quente para andar de bicicleta e
ônibus é cheio e lento. A falha deste discurso está justamente em sua
perspectiva individualista, como se as políticas públicas tivessem que
ser feitas somente para dar condições aos motoristas de
deixarem o carro em casa. Mas, além desses objetivos, a prefeitura deve
melhorar o trânsito das pessoas na realidade de hoje. Hoje, e não num
futuro próximo, temos ciclistas se locomovendo nas ruas de Recife, no
meio de um mar de carros ocupados em sua maioria por uma pessoa. A média
em Recife é de 1,2 pessoas por carro. Hoje, e não daqui a 20 anos,
temos a grande maioria da população se locomovendo de ônibus. E se nada
for mudado, continuaremos com o espaço público loteado somente para
donos de automóveis, seja para que estes possam se locomover mais rápido
que todos os outros modais, seja para terem espaço garantido para
estacionamento em vias públicas, onde poderiam estar passando
ciclofaixas ou faixas exclusivas de ônibus. O carro tem espaço demais
nas ruas, e chegou a hora de equilibrar um pouco o uso do espaço
público, transferindo uma parte do espaço dos carros para a bicicleta,
modal não poluente, que ocupa pouco espaço para se locomover e para se
estacionar – e para s ônibus, que transporta muito mais pessoas por
metro quadrado.
Chega de frases prontas! Queremos soluções diversas para o trânsito de PESSOAS, e não uma solução única para o trânsito de veículos, e é pra ontem!!!
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